É sobre seguir adiante, nada mais

05/09/2022

Nesses 13 anos eu sempre soube que teria que lutar contra mim mesma para conseguir seguir em frente sem você. Não tem um dia sequer em que a culpa não me assombre. E se…? E por que? E de que vai adiantar perguntar?

Aprendi a conviver e fazer as pazes comigo mesma todos os dias desde aquele 5 de setembro de 2009. Ainda assim, confesso que me incomoda a total normalidade ao meu redor, o que torna, de certa maneira, mais fácil fazer com que a dor das feridas que essa data insiste em reabrir passe desapercebida. E assim, ano a ano, vou encontrando novas formas de lidar com a sensação constante de solidão que esse vazio me causa e domar essa tristeza tão particular, tão minha.

Seus irmãos, ainda que não tenham consciência disso, parecem saber exatamente quando é hora de me trazer de volta para a superfície quando começo a me afogar dentro de mim mesma. Guga hoje quebrou o silêncio dos meus pensamentos mais profundos para contar que tirou vários 10 na avaliação dos cadernos da escola, Bela emendou querendo saber quando uma amiga pode vir dormir aqui em casa. É a vida que não para.

Te amo. Tenho saudades de você e da mãe que eu desejei ser para você no tempo que tivemos juntas. Mas sigo tentando ser a melhor versão de mim mesma graças a você, por você e pelos seus irmãos.

É o seu aniversário!

01/09/2022

Passados 13 anos do seu nascimento eu sigo me sentindo algumas vezes uma espectadora da minha própria vida. Fico assistindo essa eu que segue tentando se encontrar continuamente. É estranho pensar em quem eu era antes de você e quem me tornei depois da sua chegada. Eu queria acreditar que me tornei melhor como pessoa, mas não é bem assim que as coisas funcionam. Sei que certamente me transformei em alguém diferente, com novos defeitos, outras tantas evoluções positivas. O que não mudou nesses anos todos é a certeza de que a sua passagem tão breve merece ser celebrada. Sempre será seu aniversário, minha corujinha. Parabéns para você aí em cima.

Seguimos sempre pensando em você

05/09/2021

Todo início de setembro eu me sinto paralisada. A vida segue, e nós somos capazes de sorrir e sentir a felicidade nas pequenas conquistas de todos os dias. Mas em alguns momentos parece que o chão se abre e é preciso segurar firme naquela barra sustentada pelos seus irmãos. São eles que fazem a dor ser suportável. Mas confesso que em dias como hoje tudo se torna mais difícil, o calendário não permite ignorar as lembranças daquele 5 de setembro de 2009, e só me resta me apegar à certeza de que você segue conosco, iluminando nossos caminhos.

A saudade é imensa, o amor desmedido. Sinto sua falta há 12 anos. Vou sempre sentir. Te amo, filha. Siga na luz, que a gente dá um jeito de manter os cacos bem colados por aqui.

Os tais 12 anos

01/09/2021

Os anos seguem passando com uma velocidade impressionante. E mesmo que as lembranças eternas sejam da imagem de uma recém-nascida, nossa eterna bebê, você hoje completaria 12 anos, uma idade que simboliza um rito de passagem importante no judaísmo. Como mãe, eu evito pensar como você seria ou que tipo de garota teria se tornado. Mas me olho no espelho e vejo a pessoa que me tornei depois de você e tento ser a melhor versão de mim mesma.

Seguimos em frente, com sorriso no rosto apesar do coração estar sempre doendo. Feliz aniversário, corujinha.

Sobre tempo e os ritos de luto

05/09/2020

Com o passar do tempo é natural que datas de nascimento e de falecimento comecem a ser esquecidas pelas pessoas que estão à nossa volta. Obviamente, nos primeiros anos aqueles que são mais próximos acabam se recordando dessas datas e muitas vezes enviam mensagens de apoio. De acordo com cada crença, há ainda alguns ritos religiosos possíveis nos aniversários de morte e que ajudam a criar essa relação de apoio aos enlutados a longo prazo – no caso da nossa religião, todavia, não há nada específico para os pais “órfãos de filhos”.

E não que eu ache que as lembranças devem estar atreladas ao calendário, a dor de quem sofre com a perda é eterna e latente, mas convenções sócio-culturais acabam criando um processo natural de acalanto para essas ocasiões com dia certo para acontecer. Ainda assim, parece que a sociedade impõem limites de prazo para o sofrimento alheio, como se passados alguns anos fosse quase proibitivo tocar no assunto.

O fato é que a cada novo ano vamos aprendendo a lidar com a solidão gerada por esse tipo tão peculiar de luto – afinal, bebês como a Carol não tiveram a chance de deixar um legado de boas histórias, aquelas memórias que permanecem sendo guardadas por amigos, parentes, conhecidos de qualquer ocasião. No final, resta aos pais carregarem, à maneira de cada um, essa dura missão de lidar com esse enorme vazio. Os desafios são enormes e entendo que cada indivíduo lide com suas feridas de maneira particular. Como mãe, eu estabeleci uma rotina que sigo a cada dia 5 de setembro: me recolho e evito ao máximo agendar compromissos – inclusive não gosto de ter reuniões profissionais nessa data, apesar de muitas vezes isso ser inevitável.

Chegamos a 2020 e, em meio ao isolamento social tão necessário para superarmos a pandemia (e ainda mais por ser sábado), me vi talvez pela primeira vez livre para cumprir o meu desejo de retiro pessoal. Ninguém se incomodou com meu silêncio e nem com a minha total inércia. Pude ser amparada pelos meus pensamentos, sem distrações ou tarefas urgentes para me tirarem do meu transe. Eu chorei todas as lágrimas guardadas sem pudores, fiquei sentada no sofá olhando para o infinito e pude mergulhar nesse labirinto de saudade.

Naquele outro sábado, há 11 anos, eu não sabia se conseguiria seguir vivendo, mas tinha algo em mim que repetia que era preciso tentar, dar uma chance para descobrir o que estaria ainda por vir. Não sei ainda o que o destino reserva pela frente, nem as razões que nos trouxeram até aqui – muito menos como conseguimos evitar nossa auto-destruição para seguirmos nossa jornada como casal. Mas existe algo muito importante no entendimento de que pode existir felicidade apesar de toda a dor, e é possível viver ambos em sua integralidade.

Diz o ditado que depois da tempestade, vem o arco-íris. É bom poder olhar para esse tipo efeito mágico e saber que ele não surge ao acaso no horizonte. Termino esse dia marcado por lembranças amargas em paz. Saudades, Carol! Te amo, minha corujinha!

E ela teria hoje 11 anos

01/09/2020

Refleti muito sobre a continuidade das postagens. Deveria parar? Mesmo escrevendo apenas em duas datas por ano, uma parte de mim queria simplesmente deixar esse espaço como o legado de uma década de luta. Negociei em silêncio com meus sentimentos, repassei milhares de vezes a nossa história, a jornada que nos trouxe até o momento atual. Mas, afinal, hoje Carol completaria 11 anos. Sempre será seu aniversário, e eu seguirei aqui, lembrando, ano após ano.

A sensação continua sendo de um estranho vazio, mas a dor é transformadora. Espero que o céu esteja em festa.

Mais um dia

05/09/2019

No começo de todo o nosso processo de elaboração do luto costumávamos repetir sempre as mesmas palavras: um dizia “mais um dia…” e o outro respondia “menos um dia…”. Essa era a nossa forma particular de lidar com a dor e o tempo. Hoje, 10 anos depois que nos despedimos da nossa corujinha, essa sensação de que estamos remando exaustivamente em busca de um destino foi atenuada, mas continua presente.

Como todo treinamento, no começo parece impossível, depois ganhamos experiência e conseguimos seguir em frente – mas os obstáculos, mesmo que já conhecidos, parecem nos desafiar de maneiras diferentes a cada momento. O lugar que falta ser preenchido à mesa permanecerá para sempre vazio. Mas temos também motivos para nos alegrar. E até que chegue a hora do nosso reencontro, vamos juntos buscando forças nas alegrias que a vida nos proporciona todos os dias e agradecendo por cada uma delas.

 

 

 

 

O tempo passou na janela…

01/09/2019

Naquele 1º de setembro de 2009 eu senti uma alegria sufocante. Não sabia como respirar, não tinha talvez consciência de tudo que estava acontecendo ao meu redor, mas sentia uma fé inabalável regada por uma esperança desmedida sobre o futuro que nos aguardava. Olhando agora para trás me lembro daquela mãe que achava que sabia exatamente  o que era sentir a dor de uma perda e acreditava que chegaríamos em mais um dia do seu aniversário juntos para celebrar.

Os anos passaram, nunca pudemos comemorar a data. Confesso que ainda tenho medo de mim mesma quando olho para o calendário. A qualquer momento eu sei que posso desmoronar. Então eu me lembro o caminho que percorremos até aqui, as esperanças que foram dia a dia sendo renovadas. A ferida ainda sangra a cada novo passo, mas que eu aprendi a estancar para conseguir seguir em frente.

A caminhada é longa, eu sei. Passada uma década, eu aprendi a não querer a menina crescida que você seria. Entendi que a imagem daquela pequena Carol será eterna nas minhas lembranças e o amor que nos une apesar das diferentes dimensões é eterno, infinito.

Hoje é o seu aniversário. Sempre será! O  céu está em festa!

 

Como se fosse um dia de festa

01/09/2018

Nove anos. Mais um aniversário sem festa, sem ligações, sem bolo, sem vela. E com o passar do tempo, essa data foi ganhando novos significados. Continua sendo o dia em a Carol nasceu, mas todos têm tanto a fazer que nem mesmo a nossa família parece se lembrar da data – ou ao menos fingem que ela não existe. O dia 1o de Setembro aos poucos e cada vez mais vai se tornando sinônimo da solidão dessa dor que está trancada dentro de mim.

Não sei que tipo de mãe eu teria sido para a nossa corujinha e seus irmãos se os rumos da nossa história tivessem sido diferentes, mas a verdade é que só por um dia quero meu dar ao direito de chorar por não poder  ver a Cacá soprar as velhinhas hoje. Fica a saudade do que não foi e nem será. Ficam as lágrimas choradas em um canto qualquer, sem que ninguém as note. Feliz aniversário, minha estrela!

 

No final o que resta é o amor

05/09/2017

Passados oito anos, a maioria das pessoas sequer se lembra que no dia 5/09 do já aparentemente tão longínquo 2009 você nos deixou para se transformar em uma estrela brilhante. Aqueles que se recordam da data talvez simplesmente prefiram não falar sobre você, sobre nós. A sensação é de uma dor cada vez mais solitária, cada vez mais minha no sentido mais pleno e egoista do que parece ser e é.

Por hoje, só precisava colocar algumas lágrimas para fora e te contar que sinto saudades do pouco que pude estar ao seu lado. Fiz então uma foto dos seus irmãos – ironicamente hoje é Dia dos Irmãos – enquanto pensava que você, de certa forma, também está ao lado deles nesses momentos de união. Bebé já entende que você existe, mesmo que em outro plano, e fala sobre você com a naturalidade e a sabedoria do auge dos seus 6 anos. Gu ainda não entende muito bem o papo, mas presta atenção para tentar decifrar o mistério dessas conversas entre mãe e filha. Juntos eles me fazem perceber que a nossa jornada sem você é também feita de doçura. É o amor que ficou como herança da nossa história e que, afinal, está sempre aqui, pulsante e me fazendo forte para sorrir e seguir em frente.

Te amo, corujinha! Voe alto, voe sempre!