Archive for junho \30\-03:00 2010

Esta é minha filha

30/06/2010

Alguns dias depois que a Carol morreu eu falei para a Paula com uma voz bem decidida: vou mandar imprimir algumas em formato pequeno algumas fotos que tiramos da nossa corujinha na maternidade e levar comigo na carteira. A reação inicial dela foi de surpresa, mas logo ela também pediu que eu fizesse as mesmas fotos para ela também.

São quatro fotos lindas, mesmo com a sonda aparecendo em destaque presa na boquinha da minha filha: uma dela dormindo, outra com cara de choro (linda!) tomando banho, mais uma no meu colo comigo segurando o leitinho dela e a última no colo da Paula com a mamãe dando um beijinho nela.

Sempre que abro a carteira vejo uma das fotos que está por cima. Se não esqueço da minha filha nenhum segundo, nestes momentos a lembrança vem muito mais forte e eu consigo ficar mais leve por alguns segundos. Sei que vão me achar meio louco, mas às vezes até dou um beijinho nas fotos…

Até hoje acredito que ninguém viu estas fotos, ou pelo menos nunca fui questionado sobre elas. Mas se alguém perguntar, já tenho a resposta na ponta da língua: Esta é minha filha!

Para ela

29/06/2010

Hoje não é nenhuma data especial, e mesmo assim me deu uma vontade imensa de registrar a importância que a Paula tem na minha vida. Mesmo nestes dias sem grandes novidades e que demoram a passar, só a lembrança de que vou encontrá-la à noite e receber um pouco do seu carinho já me deixam animados.

Para a mulher da minha vida e mãe da minha filha, mesmo que ela não esteja aqui fisicamente, deixo uma música que ela adora, e que espero que ela também sinta do mesmo jeito que eu sinto o quanto ela está sempre aqui por mim, para o que eu precisar.

I´ll be there for you

These five words I swear to you

When you breathe I´m gonna be the air for you

I´ll be there for you

Novas decisões

28/06/2010

Vivo tomando decisões sobre o aquilo que observo não estar certo (pelo menos do meu ponto de vista). Normalmente acabo descumprindo os compromissos que tenho comigo mesma, mas o que realmente me magoa é perceber que não dou a atenção devida àquilo que prometi à Carol.

Pode parecer bobagem ou até mesmo egoísmo, já que são mudanças diretamente relacionadas a quem eu era, sou e pretendo ser, mas tenho plena consciência de que não me levo 100%  a sério.  Ouso dizer que se o percentual chegar à casa dos 50% ainda será bastante.

O fato é que quero me comprometer com as minha decisões. Ficar mais atenta à minha saúde, respeitar meus limites, estar presente física e mentalmente em casa, ter tempo para pensar no que desejo, colocar o pé no freio quando o assunto é trabalho… Todas promessas antigas, mas que todos os dias são renovadas (em vão) graças à minha grande flexibilidade quando o quesito é descumprir ordens pessoais.

Fica então estabelecida uma nova regra: me preocupar menos com os questionamentos alheios e fazer o que é certo para mim a cada momento. Mesmo que no dia seguinte eu mude de ideia.

Equilibrando a vida

27/06/2010

Neste último mês me senti particularmente mais estável. Eu ainda tenho momentos de depressão, dúvidas, arrependimento, tristeza e luto. Sim, sou constantemente invadida  pela impressão de que estou forjando uma vida feliz. Talvez eu esteja me enganando ou talvez não,  mas o importante é que aprendi a lidar com esses sentimentos negativos quando eles despontam. Eu simplesmente os deixo fluir, ao invés de tentar ignorá-los como, em vão, fiz diversas vezes.  

Mesmo antes da Carol já me recusava a ser derrubada por qualquer tipo de sofrimento. Acho  que isso é parte da minha natureza. O que eu sempre quis e busquei foi ser feliz – não como na ficção, em que tudo é perfeito, mas atingindo uma felicidade palpável, com todos os seus ônus e bônus. Já escrevi isso outras vezes: acredito que só entendemos com clareza o que é felicidade quando perdemos o que temos de melhor. Será então que fui engolida pelos meus próprios desejos?  Pelo jeito, nunca vou descobrir essa resposta. De qualquer forma, optei por juntar forças para levantar a cabeça e voltar a lutar. Esse é um dos valores que aprendi dentro de casa e que nem mesmo a mais profunda dor foi capaz de apagar de dentro de mim.

Foi essa convicção de que dias melhores viriam (e virão) que me manteve na superfície, por mais que eu tenha flertado com o risco de me afundar nesse sofrimento. Eu simplesmente não quero e não vou deixar a dor me consumir.

Revisitando o passado

26/06/2010

Pela primeira vez desde que perdemos Carol, ontem revimos os resultados dos exames realizados por ela no Hospital e Maternidade São Luiz do dia do nascimento até a sua morte. Os resultados iniciais, bastante animadores, e depois a rápida evolução da infecção só confirmaram aquilo que já sabíamos desde os primeiros sinais de problemas com a saúde da nossa filha: tudo estava sendo perfeito demais para ser verdade. Como pais de primeira viagem, fomos facilmente convencidos pelo positivismo dos médicos.

Revendo agora, com a tranquilidade e resignação de quem já sobreviveu ao pior, os sinais da evolução rápida da doença, parece óbvio que houve precipitação na decisão de tirar os antibióticos da nossa menina, afinal, ela era uma prematura de 32 semanas ou talvez até 34, como se suspeitava. Ainda assim, era cedo demais para suspender a medicação preventiva, mas nós não fomos informados na época sobre os riscos envolvidos. Também não fomos questionados se estávamos de acordo com a decisão do corpo clínico e muito menos duvidamos dela ou dos demais procedimentos adotados. 

Consigo me recordar claramente de uma das neonatologistas nos informar com um largo sorriso no rosto que a Carolina estava perfeitamente bem e que iriam retirar no dia seguinte (quinta-feira) os antibióticos dela. Na sexta-feira a mesma doutora me viu chorando no corredor da UTIN e me disse para ficar calma, que a nossa corujinha iria se recuperar. As duas cenas não param de se repetir na minha cabeça, dia após dia. Infelizmente a nossa criança não sobreviveu ao que descobrimos depois ser uma das mais traiçoeiras bactérias para pessoas com baixa imunidade, a já famosa Klebsilella Pneumoniae – caracterizando assim o quadro de infecção hospitalar descoberto quando jé era tarde demais. 

Um pequeno lapso de avaliação e lá se foi uma vida e, com ela, os nossos sonhos. Não me sinto revoltada ou com raiva dos neonatologistas, apenas me pego reavaliando a minha postura como mãe. Eu estava tão eufórica com a sorte de termos aquela princesinha entre nós que não exigi nada dos médicos. Pouco questionei, muito menos briguei por atenção. Na minha ingenuidade de garota que pensa ser mulher, imaginei que todas as outras famílias precisavam de mais atenção do que nós. Mais do que isso, eu vibrei com a possibilidade de levar o mais rápido possível a Carol para casa sem pesar por sequer um instante o fato de que ela havia nascido muito antes do previsto, e que certos cuidados especiais eram mais do que proforma. Eu também errei.

Não tenho como voltar atrás para ao menos tentar corrigir as decisões tomadas no passado, mesmo que o final permacesse inalterado. Era para ser, fico me repetindo em silêncio. Mas nem por isso devo esquecer, nem tampouco deixar o registro para que outros pais fiquem mais atentos aos detalhes, por menores que sejam, relacionados à saúde de seus filhos.

Flashback

25/06/2010

Há exatamente um ano não sabia ainda se seria mãe de um menino ou uma menina, mas estava contando os dias para o exame de ultrassonografia que revelaria sexo do nosso bebê. No dia 25 de junho de 2009 eu estava mais preocupada, porém, com uma forte dor na altura do meu rim direito que me impedia de andar, sentar e até mesmo ficar deitada exigia um exercício de acrobacia.

Enquanto acompanhava a cobertura minuto a minuto da morte de Michael Jackson, ainda supresa com a notícia, explicava para a Carol que ela precisava parar de se mexer tanto, pois eu não conseguia suportar o impacto dos movimentos que ela fazia naquela área dolorida. Pelas descrições que ouvi posteriormente, essa dor latente, que me acompanhou durante uma semana, é bem semelhante com o desconforto causado por uma forte crise renal.

Naquela época eu não conseguia conter o choro, temendo que a tal dor – causada por um leve deslocamento do útero que fez com que houvesse uma compressão do meu rim direito – me acompanhasse pelo restante da gravidez, já que não era possível prever por instância como tudo evoluiria. A idéia de talvez precisar ficar em repouso por outros cerca de 4 meses me deixou apavorada.

Foram sete dias infernais, seguidos de mais alguns outros de dor em uma escala mais suportável. E foi nessa mesma semana crítica, em meio a lágrimas e uma grande descompensação física e emocional,  que descobrimos que esperávamos uma menina. Segundos após termos a confirmação, começamos a chamá-la de Carolina e anunciamos a todos os amigos e familiares sobre a identidade daquela criança tão aguardada.

Relembrando agora dessa semana de sofrimento do corpo acompanhada de uma felicidade incalculável pela certeza de que a nossa menina em nada fora afetada por aquele sintoma, posso afirmar sem sombra de dúvidas que se pudesse prever o que o destino nos reservaria  teria implorado com todas as minhas forças para sentir aquela dor não só durante o restante da gravidez, mas por toda a minha vida para ter a chance de ter ela ao nosso lado, em carne e osso.

Hoje vejo que a tal dor insuportável não era absolutamente nada perto dessa cicatriz invisível que carregamos. Eu poderia conviver com aquela dor sem me queixar. Mas enfim, só sou capaz de perceber isso agora… Tarde demais? Talvez não. Eis mais uma lição que a nossa corujinha me ensinou.

Amor de amigo

24/06/2010

São raros os casos em que podemos dizer que amamos uma pessoa. Depois da morte da Carol, percebi o quanto um tipo de amor em especial é capaz de salvar uma vida (ou melhor, duas, no nosso caso): a amizade. Já escrevi inúmeras vezes sobre a importância de algumas pessoas que nos mostraram o caminho quando tudo parecia estar perdido. Mais do que isso, elas não desistiram de nós. Mais do que dar suporte emocional quando mais precisamos, os irmãos de coração que ganhamos ao longo dos anos não nos privaram das suas boas notícias, numa demonstração de confiança que não há como mensurar.

E aqui cabe uma confissão pessoal, se eu estivesse do outro lado dessa história não sei como me portaria. O que sei é que recebemos um presente hoje, não apenas pela demonstração de carinho, mas por todo o significado que esse ato teve para nós. Como agradecer a esse amor verdadeiro? Acho que só devolvendo com mais amor.

Quanto vale um dia?

23/06/2010

Após semanas de trabalho intenso, muitas viagens e alguns desafios vencidos consegui parar um pouco em São Paulo e cuidar um pouco da vida. Se por um lado é muito bom estar um pouco mais calmo, ficar mais com a Paula e resolver pequenos probleminhas do dia-a-dia, por outro também sobra mais tempo para pensar na vida e filosofar.

Sei que todos temos nossos problemas com o tempo e formas distintas de encará-lo, e eu só percebi o quanto é difícil encarar um dia depois que perdi minha filha. Se antes eu não tinha consciência da passagem do tempo agora presto atenção a cada detalhe do meu dia, e tenho reações tão diversas quanto “eu não estaria fazendo isto se estivesse com a Carol”, “por que estou fazendo este negócio tão inútil se poderia fazer algo melhor para mim?” ou “quanto tempo já perdi nisto sem conseguir algum retorno”. Mas o mais interessante é que, mesmo que pareçam negativos, estes pensamentos logo se transformam em algo produtivo, pois eu sei o que pode ser muito pior do que isso e não quero que aconteça de novo de jeito nenhum.

Após perder a Carol parece que começou uma nova vida para mim. Ao invés de anos, contada em dias desde aquele fatídico 5 de Setembro de 2009: hoje tenho 291 dias. Será que aproveitei o máximo de cada um deles?

Copa do Mundo

22/06/2010

É inevitável não tocar no assunto nesta época, ainda mais para um casal de torcedores (quase) fanáticos que tiveram até os bonequinhos do bolo de casamento vestidos com camisas de times de futebol: a Copa do Mundo esta aí, e mais um sonho fica para trás.

Como bons amantes do futebol já tinhamos imaginado tudo: esta seria a primeira Copa da Carol, que iria torcer com a gente pelo Brasil e já ia aprender tudo sobre futebol. Depois teríamos quatro anos para nos preparar e levar a nossa corujinha, já mais grandinha, em vários jogos da Copa no Brasil, em 2014.

Apesar de trazer lembranças tristes continuamos interessados e torcendo para que o Brasil vença. Vimos o jogo com amigos, vibramos, sorrimos, ficamos nervosos, gritamos gol…Tudo do jeito que fizemos em outros anos de Copa. Pena que desta vez falta algo, e infelizmente é “só” o mais o importante.

Notícias de famosos

21/06/2010

Li a notícia sobre o nascimento da filha da Scheila Carvalho e estranhamente me enchi de alegria. Não, não sou nenhuma fã ou qualquer coisa do gênero da ex-dançarina do É o Tchan. Mas, apesar de não conhecê-la exceto pela televisão, desenvolvi uma admiração por ela desde a morte da Carol. Quando perdemos a nossa filha a única história pública que eu já tinha ouvido falar que se assemelhava  à nossa era a “Morena do Tchan”. Não sei por qual motivo, mas o relato dela me chamou muito a atenção – talvez por que sentia já uma certa aproximação com a questão da morte de um bebê, mas não tinha a compreensão do quão profundo é esse sofrimento.

Na época em que li as notícias sobre a morte de seu filho recém-nascido achei que era um exagero falar com a imprensa sobre o assunto dias depois da fatalidade. E foi esse meu sentimento de certa indignação com a desgraça alheia que me chacoalhou quando fomos levados à dor extrema de ver nossa filha partir. Em um estalar de dedos eu entendi exatamente o que aquele casal de famosos tentava transmitir ao conceder uma entrevista para a TV dias após o grande choque. Era exatamente o que eu busquei fazer com esse blog. Abrir seus sentimentos em um momento crítico não é fácil. E posso dizer que fico grata pela lição de quem, assim como nós, presenciou a ruptura do laço que une pais e filhos sem se deixar destruir.

Há alguns meses vi a Scheila falando sobre a nova gravidez e, sem abalos ou constrangimento, mencionar a gestação anterior, mesmo sem ser questionada sobre o passado. Agora, lendo sobre o nascimento de sua segunda filha, posso dizer que fico feliz por uma família que não conheço, mas que ao mesmo tempo me parece tão próxima. No mais, para quem lê a notícia parece que é tudo tão fácil. Pena que só parece…