Archive for novembro \30\-03:00 2010

Vitórias

30/11/2010

A cada vez que sinto leves movimentos ou então escuto os batimentos cardiácos da nossa segunda filha tenho a plena certeza de que estamos conquistando uma nova vitória. Tudo é tão diferente, mesmo com as semelhanças dos momentos que vivemos à espera da Carol – imagino que todos os pais tenham a mesma impressão, independente da história – que por vezes me surpreendo com as minhas reações.

Hoje, durante o ultrassom de rotina, me peguei totalmente encantada com a visão dos movimentos que observei pela tela. Eu já sabia, claro, que veria os pezinhos, mãos, nariz, boca e tudo mais. Ainda assim era de certa forma como se fosse a primeira vez que acompanhava essa evolução e transformação das formas e tamanho de um bebê de perto.

Talvez a minha visão tenha mudado ao longo do pouco mais de um ano que separa a maior tragédia desse nosso caminho juntos até o atual momento de felicidade e, por que não dizer, descobertas. Das poucas certezas que tenho, de fato sou uma mãe melhor por tudo que a nossa corujinha foi, é e sempre será.

Efeito borboleta

29/11/2010

No domingo acabei revendo algumas fotos antigas, da gravidez da Carol. Fazia um bom tempo que não usávamos aquela câmera fotográfica e depois de alguns cliques o cartão de memória ficou cheio. Perguntei ao Isi se as imagens anteriores àquele dia estavam salvas e como a resposta foi sim, comecei a deletar. De cara não notei do que se tratavam as cenas arquivadas, mas depois de alguns apertos automáticos no botão “lixo” percebi que estava apagando as fotografas da primeira reunião com amigos após a nossa mudança e a descoberta de que seríamos pais.

Fui passando rapidamento pelas imagens, não queria ficar reparando nos detalhes como costumo fazer normalmente – acho que todas as pessoas são assim. Segui com a meu trabalho quase mecânico de “aperta”, “apaga” e “segue”, mas não pude deixar de viajar naqueles poucos minutos na nossa quase que meteórica história: depois do encontro com amigos, o meu primeiro Dia das Mães, diversas poses mostrando o crescimento da barriga, aniversário de pessoas da família, o primeiro Dia dos Pais do Isi… Fui então interompida por um chamado de “aproveita, tira a foto agora que eles não estão olhando!”. Era mais uma palhaçada de dois amigos durante o animado churrasco.

Estava ainda deletando as imagens do aniversário do Isi, no dia 23/08, mas não tenho certeza se cheguei ao final de mais essa sequência. Me senti como naqueles flashbacks no melhor estilo “Efeito Borboleta”, em que a o personagem revê em ritmo acelerado uma série de acontecimentos que mudaram os rumos da sua vida. Foi incrível, mas naquele curto espaço de tempo revivi os momentos maravilhosos que vivemos enquanto aguardávamos a chegada da nossa corujinha.

O chamado que me acordou para o presente aconteceu quando eu apagava sistematicamente as últimas fotos daqueles tempos de alegria de uma gestação muito tranquila. A Carol nasceu pouco mais de uma semana depois, em 1 de setembro. Não sei se as imagens que viriam logo depois seriam já da maternidade e, claro, da nossa primogênita. Imagino que sim, mas como nada é por acaso, aquele estalo que me fez retornar à terra firme aconteceu no momento certo. 

Eu precisava relembrar como era aquela felicidade pura, diria até inocente, da época em que nada nos preocupava para, então recobrar a consciência e notar que, apesar da nossa mudança de percepção, enfim estamos reaprendendo a desfrutar daquele sorriso fácil que faz tão bem!

Um ano, quanta diferença

28/11/2010

Há aproximadamente um ano eu e a Paula fomos no aniversário de 1 ano de uma criança da família. Mais ou menos um mês e meio após a morte da Carol, aquele evento foi nossa primeira prova de fogo onde seríamos confrontados não somente com nossos sentimentos ao ver tantas crianças e pais felizes, mas também com os olhares de muita gente que não sabíamos como encarar.

Aguentamos firme durante praticamente a festa toda, mas no finalzinho eu não consegui me segurar: durante uma retrospectiva do primeiro ano de vida daquele bebê eu chorei. Talvez por estar escuro, ou por eu ter tentado me controlar rapidamente, acredito que pouca gente percebeu (ou pelo menos finjiram muito bem).

Hoje voltamos no aniversário de 2 anos daquela mesma criança, por coincidência no mesmo buffet infantil. Este ano não teve retrospectiva. Este ano eu não chorei.

Amigos nada secretos

27/11/2010

Costumo explicar sempre que posso que um dos grandes aprendizados que obtive após a morte da Carol foi valorizar os amigos verdadeiros que temos. Acredito que este amor despretencioso, vindo de pessoas que posso chamar de irmãos de alma,  é o que torna pessoas vindas de famílias e criações totalmente diversas especiais e eternas em nossas vidas.

Choramos muito nos ombros de quem não tinha qualquer compromisso ou obrigação maior em permanecer ao nosso lado nos momentos mais difíceis. Nos apoiamos neles para conseguir aos poucos erguer novamente nossos corpos e roubamos um pouco da força de cada um para combater a dor que nos torturava. Com o tempo, aprendemos a guardar o sofrimento de uma forma que permitisse o encaixe de novas experiências, deixando que os sentimentos bons voltassem a brotar em nós. Agora compartilhamos a alegria por essa segunda filha que já faz parte dessa corrente de positivismo que sabemos que nos cerca.    

Só mais uma trilha sonora

26/11/2010

Foi dificil retomar a rota da alegria depois de tudo que passamos desde aquele 5 de setembro de 2009, quando a Carol voltou a ser anjo no céu. Mas já que sempre teremos esse imenso vazio dentro de nós, aprendemos valorizar ainda mais tudo aquilo que preenche os demais espaços que restaram intactos – e eles não são poucos. E assim seguimos cantando à nossa moda, aguardando a volta da felicidade que só a chegada de outra vida pode ser capaz de proporcionar.

Já estava com saudades da voz do Chico Buarque entoando seus poemas. Voltei a cantar neste momento com ele.

Apertando o play

25/11/2010

O tempo está passando e ainda assim eu queria ter o poder de apertar a tecla “forward” para acelerar um pouquinho mais esse avanço para o futuro que nos aguarda. Lendo o post de ontem, escrito pelo Isi, porém, devo confessar que é bom dar tempo ao tempo, como diz o ditado. Estamos aproveitando ao máximo cada minuto dessa nova gravidez, tentando fazer o melhor que podemos pela nossa segunda filha.

Recordando a época em que aguardávamos a chegada da Carol, o que mais me incomoda é saber que por achar que teríamos muitas oportunidades para demonstrar todo o amor que sentiamos por ela quando ela nascesse, acabei deixando de lado a atenção que  deveria ser conferida a ela ainda na barriga. Por fim, nos restaram apenas 5 dias. E só… Se o primeiro filho é uma espécie de termômetro de certo ou errado para que os pais possam fazer mais e melhor pelos seus próximos descendentes, aí está uma lição que aprendi.

Ainda escorrego um pouco nas minhas próprias limitações de mãe, porém espero que desde já esteja sendo capaz de mostrar à bebê que está crescendo dentro de mim o quão importante ela é em nossas vidas.

Coisas simples

24/11/2010

Será que nossa vida está voltando ao normal? Será que algum dia ela já foi normal? Estamos diferentes, ou somos os mesmos de antes?

Perguntas assim tem rondando minha cabeça durante estes dias pós-férias, em que estamos trabalhando, curtindo a gravidez e, principalmente, fazendo planos. Exatamente como antes da Carol nascer. As respostas para as perguntas acima eu ainda não sei, mas uma das coisas que mudou foi a percepção das coisas simples da vida que hoje conseguimos perceber quão importantes são para nossa vida e as pessoas que nos cercam, como riscar como finalizada uma atividade banal do trabalho, chegar 5 minutos mais cedo em casa ou descobrir que o cabo da câmera funciona no GPS. Enfim, coisas simples.

Segundo primeiro quarto

23/11/2010

Ontem a Paula contou a versão dela da nossa visita ao Ateliê Primeiro Quarto, então hoje é a minha vez de contar outra versão dos fatos.

Mentalmente eu já tinha planejado como seria a visita: entraríamos, contaríamos a novidade, diríamos que mais para a frente iríamos retomar a decoração do quarto para nossa nova princesinha e sairíamos. Só isso, rápido e indolor. Talvez fosse um preparo mental caso ficássemos sem saber o que fazer ou tivéssemos algum sentimento ruim.

Mas logo que chegamos fomos tão bem recebidos e a nossa novidade trouxe uma alegria sincera no pessoal de lá que logo tudo o que eu tinha pensado mudou. Sentamos lá e vimos diversas opções de decoração, coisas parecidas com o que tínhamos feito para a Carol e conversamos bastante sobre o que fazer com aquilo que já temos pronto (e que ficou guardado lá para nós) e o que vamos fazer de novo. Foram momentos ótimos e que nos trouxeram ótimas lembranças da nossa corujinha, além de criarem novas memórias para nossa nova bebê que chegará em Maio do ano que vem.

Meio que de brincadeira eu sempre achei incompreensível o filme “Meu Primeiro Amor – Parte 2”, pois pensava ser impossível alguém ter um primeiro amor pela segunda vez. Agora que estou fazendo meu primeiro quarto pela segunda vez talvez eu precise rever meus conceitos.

A decoração do quarto

22/11/2010

Na semana passada fomos ao Ateliê Primeiro Quarto para dividir a notícia dessa segunda gravidez. Foi lá que decidimos a decoração das paredes do quarto que estavámos na época começando a montar para a Carol. Quando ela morreu, o quarto ainda estava praticamente vazio – absolutamente tudo chegou depois do nascimento dela – e os adesivos e aplicações em MDF tão planejados sequer chegaram a ser instalados. E foi nessa visita rápida que vi de perto o resultado daquela conjunção de ideias que tinha gerado uma decoração única, diferente de tudo aquilo que havíamos visto nas fotos digitais e álbuns de arquivo da loja.

Lembro que ao vermos os desenhos finalizados na tela do computador o comentário geral foi de que seria uma decoração cujas fotos mereceriam ser enviadas para as revistas especializadas. Sem a nossa primeira menina para ocupar o quarto, parte do resultado passou a ilustrar este blog, decorando esse espaço que pertence à Carol, com as três corujinhas que escolhemos para representar a nossa família. A coruja mãe foi tirada de um quadro, a coruja filha foi desenhada com base em outros esboços que já existiam e a coruja pai foi criada especialmente para o Isi (mais clarinha e com os olhos verdes). Apesar de nunca terem sido aplicadas na nossa casa, descobrimos que as corujinhas e os outros elementos que escolhemos para alegrar o quarto da nossa menina mais velha passaram a fazer parte do dia a dia de outras  crianças.

Sim, de certa forma os símbolos que escolhemos para ilustrar o nosso amor pela Carol acabaram sendo transmitidos para outras famílias. E como foi bom perceber que todo o nosso imaginário fez sentido para outras pessoas. Vimos algumas fotos da decoração em quartos de outras menininhas, um pouco diferente do jeitinho que ela fora meticulasamente sonhada por nós – não, ninguém colocou papel de parede rosa com bolinhas brancas para acompanhar a composição.

Confesso que na hora senti um certo aperto no coração, a impressão de que aquilo tinha deixado de me pertencer. Foram frações de segundos em que um filminho de tudo que vivemos há cerca de um ano e meio, quando iniciamos nossas buscas pelo quarto perfeito, rodou na minha cabeça. Logo depois, porém, me bateu um alívio sem explicação. Os desenhos nas paredes daquelas outras crianças não nos pertencem e eles não mereciam ser disperdiçados com a tristeza, pelo contrário, mereciam ser passados à frente, como lembrança de tudo de bom que a Carol nos trouxe. 

Voltaremos ao Primeiro Quarto nos próximos dias para definir a decoração do quarto da nossa segunda filha. Provavelmente a inspiração de tempos atrás fará parte desses novos sonhos, com direito a espaço para quatro corujinhas, como acho que tem que ser. No mais, vamos criar coisas novas, temos, afinal, talento e inspiração para isso!