Archive for agosto \31\-03:00 2010

Como se fosse ontem

31/08/2010

Me lembro perfeitamente daquela segunda-feira, 31 de agosto de 2009, principalmente do que aconteceu durante aquela noite e a madrugada do dia seguinte. Depois de um conference call sobre os relatórios mensais dos clientes e de um estresse generalizado entre a equipe, voltei para casa e seguimos para a aula de inglês. Foi tudo tranquilo, não estava sentindo nada de diferente. Mas depois de tomar um banho e finalmente poder relaxar,  me veio uma estranha inquietação. 

Tentei dormir, mas a única coisa que consegui foi ficar me revirando na cama, sem pregar os olhos. Não entendia o por quê daquela angústia que estava tomando conta de mim. A Carol estava agitada e eu levantei algumas vezes para fazer xixi. Assisti as reprises dos episódios de Ghost Whisperer e Medium até que, finalmente, às 2 da manhã, achei que estava na hora de forçar o sono e me acalmei. Acordei às 4 horas de terça-feira com  a sensação de estar  completamente molhada. E estava.

O resto é memória: alegria, tristeza e recomeço.

Decisão difícil

30/08/2010

Tive que fazer uma escolha para a próxima quarta-feira 01 de Setembro de 2010, data em que a Carol faria 1 aninho:

Opção 1: Adiar uma viagem a trabalho e passar o dia aqui normalmente.

Opção 2: Fazer esta viagem, ficando os 3 próximos dias fora de casa.

Passei bastante tempo pensando no assunto sozinho e depois conversei com a Paula para chegar a uma decisão que nos deixasse menos tristes, já que nesta data não conseguiremos nos sentir diferentes disto por mais que tentemos.

Imaginei que se a Carol não tivesse nos deixado tão cedo eu com certeza ficaria aqui para passar este primeiro aniversário com ela. Mas infelizmente ela não está aqui, e lá de cima deve estar pedindo para seus pais seguirem com a vida normalmente e cuidarem o melhor que puderem um do outro. Então pensei que sofrer mais um dia aqui não seria a melhor forma de cuidar da Paula e homenagear minha filha.

Por isso decidi pela opção dois: vou viajar amanhã e voltarei rapidamente com novidades, histórias e presentes que farão o dia 01 de Setembro de 2010 menos pesado para nós dois. E, durante este tempo todo, continuarei Pensando na Carol como todos os dias (ou talvez até mais).

18 anos

29/08/2010

Há 18 anos perdi meu avô. Passei o dia inteiro forçando a memória para relembrar os momentos que vivi ao lado dele. É estranho por que só depois da morte da Carol percebi o quando me faz mal não ter recordações mais claras dos meus quase onze anos de vida ao lado dele.

Apesar de um grande esforço para esquecer daquele 29 de agosto de 1992, tudo que consegui foi deixar de lado todo o resto. As únicas cenas que permanecem nítidas e intactas são as daquele sábado. Por algum motivo eu estava brava com o meu avô, provavelmente por uma daquelas bobagens de criança manhosa. Na hora do almoço, fui tomar um banho enquanto minha avó servia a refeição – como eu estava irritada, não queria comer com ele. Pouco depois, enquanto eu me trocava, ouvi os gritos vindos da cozinha e então corri. Da porta, só vi meu avô no chão, olhos abertos e em um tom de verde mais claro que o usual – ele tinha olhos esverdeados, mas que pareciam mais cor de mel.

As imagens que me vinham à mente durante os anos seguintes sempre que pensava no meu avô invariavelmente me remetiam ao fim de tudo, então simplesmente me acostumei a bloquear as referências que me levavam de volta ao dia em que o vi partir. Com isso acabei apagando praticamente todos os momentos da minha infância com meu avô. Sei que eles estão guardados em algum lugar do meu cérebro, mas por falta de uso acabei perdendo a chave desse arquivo. Restaram apenas meia dúzia de recortes e colagens de memórias boas.

Por isso, quando me vi sem a Carol me desesperei. Eu não podia perder ela uma segunda vez, como sinto perder novamente o meu avô toda vez que tento em vão reviver o nosso passado juntos.  Quando menina, por medo da dor, optei por apagar um pedaço de mim, da minha história. Já adulta, sabia que precisava lutar para manter a Carol intacta dentro de mim.

De certa forma, ainda me sentindo uma criança perdida em meio a uma tristeza sem explicação, tenho consciência de que é preciso voltar  a sentir repetidas vezes aquele gosto amargo do final para então lembrar do sabor doce que veio antes disso. Apesar dos efeitos colaterais, essa é a única maneira guardar devidamente a herança completa do que foi e sempre será um grandes amor.

Mais perto de mim

28/08/2010

Escrever diarimente me faz me sentir mais perto da Carol e, em muitos aspectos, mais perto de mim mesma. Por mais que finjamos acreditar que agimos normalmente fora dessa nossa bolha invisível desde que perdemos a nossa menina, é através deste blog que desnudo minha realidade. Muitas vezes me surpreendendo com a forma como as palavras dão voz aos sentimentos guardados e ocultados no fundo do meu coração.

Enquanto digito, tenho a impressão de que, enfim, minha alma e corpo voltam a se unir após um longa jornada no mundo externo sem se comunicarem.

A difícil arte de continuar

27/08/2010

Aquele que seria o dia do primeiro aniversário da Carol está se aproximando e com ele algumas questões passaram a nos rondar. Tenho tentado evitar pensar em como me sentirei ou no que farei ao longo da próxima quarta-feira, mas me peguei algumas vezes me esquivando de qualquer tipo de compromisso profissional que possa ser sugerido para a data. Sem a nossa menina, talvez eu devesse encarar minha rotina com naturalidade, sem me prender a esse tipo de convenção, mas algo que não sei explicar me impede de tratar o assunto com tamannho distanciamento.

Por mais que eu tente me afastar dos marcos que saltam dessa nossa linha do tempo histórica, não estou preparada para entender cada um deles como parte do passado. No final, o calendário não muda nada, apenas sinaliza o fim de mais um ciclo que dará lugar ao início de um novo e longo caminho.

Desprendimento

26/08/2010

Me vi em meio a uma situação que em outros tempos me deixaria no mínimo nervosa a ponto de iniciar uma discussão daquelas. Estranhamente, ao sentir aquele calor subir pela minha garganta, tive um flash de memória do ápice do meu estresse, cerca de um anos atrás pra ser mais exata, poucos dias antes do nascimento da Carol. Não posso negar que vez ou outra a culpa por ter me permitido chegar ao extremo negativo faz com que eu retorne ao check list de tudo aquilo que poderia ter sido feito diferente para, quem sabe, evitar o desfecho da nossa história.

Como voltar ao passado para corrigir os erros cometidos não é uma opção e não há uma maneira de descobrir se essas pequenas ações mudariam o nosso destino, tenho que pelo menos me contentar em evitar repetir meus enganos agora e daqui pra frente. O jeito é respirar fundo e ser paciente. Nada como um dia após o outro.

Mergulhando fundo

25/08/2010

Eu sinto muito a falta da Carol, todos os dias, o tempo todo.  A parte estranha é que, ainda assim, eu encontro razões para sorrir com muito mais facilidade agora do que antes de toda a nossa tragédia particular. Eu continuo trabalhando com o mesmo vigor, mas tenho  mais ânsia por realizar coisas novas. Talvez eu seja simplesmente conformista por natureza ou então realista ao extremo, não sei ao certo como posso me categorizar. O fato é que ser mãe e assistir a nossa menina deixar esse  mundo sem ter a oportunidade de conhecer tudo que existe aqui fora me fez acordar para aquilo que merece ser vivivo.

Em dias como hoje, me enxergo diferente, forte, positiva. Sei muito mais quem eu sou agora e o que quero para mim e para nós. Posso afirmar com segurança que tenho fôlego de sobra alcançar tudo aquilo que desejo pessoal e profissionalmente – com um empurrãozinho evidente vindo lá de cima. Estou, enfim, nadando até as profundezas ao invés de só boiar na superfície.

Retrospectiva

23/08/2010

Agora que a festa já foi, acho que cabe uma consideração. Poderia ter feito uma retrospectiva de fotos. Cheguei a planejar a melhor maneira de fazer isso. Concluí que deveria pedir aos amigos e parentes contribuições de imagens e tirar algumas horas para coletar as milhares de fotos que temos em papel e digitalizadas para então reuni-las em um formado simples, só mesmo para projetarmos na parede da pista de dança ao longo da festa. Nada muito elaborado, imaginei.

Acontece que em meio ao turbilhão de ideias que me ocorreram, esbarrei nas minhas próprias limitações. Como criar coragem para rever as cenas de felicidade em que juntos deixávamos transparecer a emoção pela futura chegada da Carol?  Mais do que isso, seria o momento de remexer nas fotos que temos do período de gravidez e com a nossa filha, as únicas  que  mostram o nosso pequeno núcleo familiar completo?

Confesso que ensaiei algumas vezes acessar esses arquivos digitais, mas não tive forças suficientes para isso. Além do meu evidente egoísmo, entendi que existe um momento certo para cada coisa. E essa não era ainda a hora. Por outro lado, posso dizer que essa retrospectiva dos nossos quase 11 anos juntos rodou diversas vezes na minha cabeça enquanto dançávamos ou conversávamos com os convidados.

Acho que o papai aniversariante também assistiu intimamente um filminho de sua vida passar repetidas vezes durante a comemoração dos seus 30 anos. No final, é isso o que realmente importa.

110

23/08/2010

Num Domingo de inverno estranhamente quente 110 pessoas se juntaram no mesmo local para uma atividade em comum: colar de volta mais alguns pedacinhos de um coração em migalhas.

Por quase 5 horas bebês, crianças, jovens e adultos de 3 meses a 81 anos mostraram a um homem com cabeça de menino que a vida vale a pena, e apesar dos percalços ainda podemos acreditar em algo melhor. Faltou uma pessoa especial que daria outro sentido a este evento, mas a lembrança que ela deixou esteve presente todo o tempo.

Obrigado, pessoal! Se ainda não cicatrizou por completo (e desculpem, mas nunca vai cicatrizar…), pelo menos vocês conseguiram colocar no lugar mais uma parte do meu coração.

Na na na… Hey Isi

22/08/2010

Pode parecer estranho para muita gente, mas hoje é dia de festa. Há pouco menos de um ano nossa filha morreu, então as comemorações por qualquer que fosse a data, sem explicações necessárias, poderiam ser deixadas para o futuro ou então esquecidas para sempre. Não é assim, porém, que nos enxergamos e, acima de tudo, enxergamos as nossas vidas sem a Carol. De certa forma, aprendemos a cada dia fazer do fim um novo começo.

 A festa nunca será completa, os lugares vazios na mesa, na pista e no coração não serão preenchidos. Agora, já que podemos fazer algo por nós mesmos, vamos aproveitar aquilo de bom que nos resta e dedicar a cada pequena razão para comemorar o valor que lhes cabe!

Estava aqui pensando em qual seria a mensagem que deveria deixar para o Isi neste momento em especial, enquanto ele fica em silêncio tentando amarrar apertado e guardar a dor que sente. E aí tocou a música que casa perfeitamente com tudo aquilo que eu gostaria de dizer. A letra foi feita por Paul McCartney para o filho de John Lennon, Julian, para confortá-lo depois da sepração dos pais. Ou talvez seja uma canção-recado para o próprio John Lennon, como o próprio acreditava. O fato é que tomei a liberdade de transcrever as palavras do autor substituindo o nome da versão original Jude por Isi. Espero que Paul McCartney me perdoe pela ousadia…       

Ei Isi

Ei, Isi, não fique mal,
Escolha uma música triste e torne-a melhor.
Lembre-se de deixá-la entrar em seu coração,
Então você pode começar, a melhorá-la.

Ei, Isi, não tenha medo,
Você foi feito para sair e conquistá-la,
No minuto que você deixá-la entrar na sua pele,
Então você começará a melhorá-la.

E sempre que você sentir a dor,
Ei Isi, detenha-se,
Não carregue o mundo nos ombros.

Você bem sabe que é um tolo,
Quem finge que está numa boa
Tornando seu mundo um pouco mais frio.

Ei, Isi, não me decepcione,
Você encontrou-a, agora vá e conquiste-a,
Lembre-se de deixá-la entrar em seu coração,
Então você pode começar a melhorá-la.

Então coloque pra fora e deixe entrar
Ei, Isi, comece,
Você está esperando por alguém com quem realizar a performance.
E não sabe que é somente você?

Ei Isi, você consegue
O movimento que você precisa está nos seus ombros

Ei, Isi, não deixe mal
Escolha uma música triste e torne-a melhor,
Lembre-se de deixá-la debaixo da sua pele,
Então você começará a melhorar